
Ramagem Saiu Clandestinamente pela Fronteira com a Guiana, Revela Polícia Federal
Em um episódio que choca o cenário político brasileiro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-delegado da Polícia Federal, fugiu do país de...
Em um episódio que choca o cenário político brasileiro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-delegado da Polícia Federal, fugiu do país de forma clandestina em setembro, atravessando a fronteira com a Guiana sem passar por postos migratórios. A revelação foi feita pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, durante um café da manhã com jornalistas nesta segunda-feira (15). O caso ganha contornos ainda mais graves ao envolver uma condenação recente por participação em uma trama golpista, destacando as vulnerabilidades nas fronteiras e no sistema de passaportes diplomáticos. Essa fuga não só expõe falhas institucionais, mas também levanta debates sobre a accountability de figuras públicas em contextos de crise democrática.

Detalhes da Fuga Clandestina
A fuga de Ramagem ocorreu em um momento crítico para o Judiciário brasileiro. Setembro foi o mês em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou os principais envolvidos na tentativa de golpe de Estado. Ramagem, que atuou como delegado da PF em Roraima – estado fronteiriço com a Guiana –, cruzou a divisa pelo território roraimense, evitando qualquer controle oficial de imigração. De acordo com as investigações da Polícia Federal, o deputado chegou à Guiana e, dali, embarcou no Aeroporto de Georgetown, capital do país vizinho, rumo aos Estados Unidos.
O que torna o caso particularmente alarmante é o uso de um passaporte diplomático para ingressar nos EUA, apesar de uma ordem judicial para seu cancelamento. Esse documento, emitido pelo Ministério das Relações Exteriores, permitiu que Ramagem burlasse restrições iniciais. Andrei Rodrigues destacou que a PF está agora revisando todos os passaportes diplomáticos em circulação, implementando bloqueios em seus sistemas internos e na Interpol. No entanto, o diretor alertou para uma lacuna: o cancelamento oficial é de responsabilidade do Itamaraty, que não possui comunicação direta com a rede internacional de polícia, o que pode facilitar evasões semelhantes.
Condenação e Contexto da Trama Golpista
Ramagem foi condenado pela Primeira Turma do STF a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão pelos crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado. A sentença integra um julgamento mais amplo que também abrangeu o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros seis membros do núcleo central da conspiração. Esses eventos remontam aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, quando invasões ao Congresso, STF e Planalto marcaram o ápice de uma rede de planejamento golpista.
Como ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e figura próxima ao bolsonarismo, Ramagem era visto como peça-chave na articulação de estratégias de desestabilização. Sua condenação reflete o esforço do STF em punir os articuladores de ameaças à democracia, em um contexto cultural e político onde narrativas revisionistas ainda circulam amplamente nas redes sociais e mídia alternativa. Especialistas em direito constitucional apontam que casos como esse reforçam a necessidade de reformas no sistema de inteligência e fronteiras, para prevenir que condenados evadam a justiça.

Ações da Polícia Federal e Cerco aos Cúmplices
A Polícia Federal não está medindo esforços para capturar Ramagem e desmantelar a rede que facilitou sua fuga. Segundo o blog de Julia Duailibi no G1, a corporação já coletou evidências sobre financiadores e organizadores da evasão. No último sábado (13), agentes prenderam Celso Rodrigo de Mello, filho de um conhecido empresário, em Manaus. A detenção faz parte de uma operação mais ampla que investiga possíveis conivências em rotas de fronteira e logística aérea.
- Medidas Implementadas: Revisão de todos os passaportes diplomáticos e integração com sistemas da Interpol.
- Investigações em Andamento: Identificação de rotas clandestinas em Roraima e parcerias com autoridades guianenses.
- Impacto Internacional: Cooperação com os EUA para rastrear o paradeiro de Ramagem.
Essas ações demonstram o compromisso da PF em restaurar a ordem, mas também expõem desafios logísticos em regiões amazônicas, onde a porosidade das fronteiras é um problema crônico agravado por questões ambientais e de segurança.
Conclusão
A fuga de Alexandre Ramagem não é apenas um caso isolado de evasão de justiça, mas um sintoma de fragilidades institucionais que demandam atenção urgente. Com o cerco se fechando, a PF busca não só a extradição do deputado, mas também prevenir futuras brechas em um sistema que protege a democracia. Esse episódio serve como lembrete cultural e político de que a vigilância coletiva é essencial para salvaguardar os pilares do Estado de Direito no Brasil, em meio a polarizações que ainda ecoam na sociedade. As investigações prosseguem, e o desfecho pode redefinir protocolos de segurança fronteiriça por anos a fio.





