Nos últimos anos, a Enel, multinacional italiana de energia elétrica, tem enfrentado uma série de controvérsias no Brasil. De apagões massivos em São Paulo a pressões regulatórias no Ceará e investigações em Goiás, a empresa que opera em vários estados brasileiros acumula reclamações de consumidores e autoridades. Este artigo explora o histórico de problemas da Enel, destacando os impactos na vida cotidiana dos brasileiros e as medidas em discussão para mitigar as falhas no serviço.

Apagões Recorrentes em São Paulo: Um Problema Crônico

São Paulo, o maior centro urbano do país, tem sido palco de apagões frequentes atribuídos à Enel Distribuição São Paulo, a maior operadora de energia do Brasil. Recentemente, um blecaute afetou quase 2,3 milhões de imóveis na capital e região metropolitana, deixando milhões de pessoas no escuro por mais de 24 horas. Moradores relataram transtornos graves, como a interrupção no abastecimento de água, elevadores parados em prédios e prejuízos em comércios.

Um exemplo marcante veio de Pinheiros, bairro nobre da capital, onde o dono de um restaurante desabafou: "Estamos desesperados", após dias sem luz, resultando em perdas financeiras e alimentos estragados. Esse episódio não é isolado; em 2023 e 2024, temporais intensos causaram falhas semelhantes, com a Enel culpando eventos climáticos extremos pela demora nos reparos.

Em resposta, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes anunciaram ações conjuntas. Eles pretendem acionar a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para romper o contrato de concessão da Enel na Grande São Paulo, que abrange a capital e mais 23 municípios, atendendo cerca de 18 milhões de habitantes. A Aneel já iniciou o processo de análise de caducidade, que pode resultar na extinção do contrato por má prestação de serviços.

Pressão no Ceará e Investigação em Goiás: Expansão de Controvérsias

A Enel opera em três estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. No Nordeste, especialmente no Ceará, a empresa enfrenta crescente pressão de autoridades e consumidores por falhas na rede elétrica. Relatos de interrupções prolongadas durante chuvas e queixas sobre a qualidade do serviço levaram a multas da Aneel e protestos locais. Consumidores cearenses acusam a Enel de priorizar lucros em detrimento de investimentos em infraestrutura, agravando problemas em áreas rurais e urbanas.

Em Goiás, a situação é ainda mais grave. A Enel, por meio de sua subsidiária Celg-D, foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa. A investigação apura denúncias de irregularidades, como superestimativa de investimentos, corrupção em contratos e negligência na manutenção da rede. A CPI revelou evidências de que a empresa falhou em cumprir metas de universalização do serviço elétrico, deixando comunidades isoladas sem energia por semanas.

• Principais acusações em Goiás: Falhas na prestação de serviço, atrasos em indenizações por danos e possível conluio com fornecedores.
• Impactos no Ceará: Multas acumuladas superam R$ 10 milhões, com promessas de melhorias que ainda não se materializaram.

Investimentos da Enel e Perspectivas Regulatórias

Desde que assumiu a concessão em São Paulo em 2018, a Enel afirma ter investido recordes na modernização da rede. A empresa planeja destinar R$ 10,4 bilhões entre 2024 e 2027 para expansões, incluindo duplicação do número de podas de árvores em contato com a rede elétrica e intensificação de manutenções preventivas. Além disso, a Enel ampliou equipes de eletricistas e implementou tecnologias para monitoramento em tempo real.

No entanto, críticos questionam a efetividade desses investimentos, apontando que os apagões persistem apesar das promessas. A Aneel, responsável pela regulação, tem aplicado multas recorrentes, totalizando milhões de reais, e agora avalia a caducidade do contrato em São Paulo como medida extrema para proteger os consumidores.

Conclusão: Um Futuro Incerto para a Enel no Brasil

O histórico da Enel no Brasil reflete desafios maiores no setor de energia, como a adaptação a mudanças climáticas e a pressão por serviços mais confiáveis. Enquanto a empresa defende seus avanços, a insatisfação generalizada de consumidores e autoridades sinaliza a necessidade de reformas urgentes. O rompimento de contratos em discussão pode redefinir o mercado elétrico nacional, priorizando a estabilidade para milhões de brasileiros. Resta aguardar as decisões da Aneel e o impacto em outros estados, em busca de um equilíbrio entre inovação e responsabilidade social.