
Contra violência de gênero, mulheres sul-africanas fazem greve na véspera da cúpula do G20
Em um ato poderoso de resistência e solidariedade, mulheres sul-africanas pararam o país por um dia inteiro na véspera da cúpula do G20 em Joanesburgo...
Em um ato poderoso de resistência e solidariedade, mulheres sul-africanas pararam o país por um dia inteiro na véspera da cúpula do G20 em Joanesburgo. O movimento, conhecido como "Women's Shutdown", destacou a urgência de combater a violência de gênero, um problema endêmico na sociedade sul-africana. Vestidas de preto e com ações simbólicas nas ruas e redes sociais, as manifestantes chamaram atenção global para uma crise que afeta milhões de vidas, transformando o protesto em um marco cultural de empoderamento feminino.

O "Women's Shutdown": Um Chamado Coletivo à Ação
O "Women's Shutdown" foi organizado por ativistas e coletivos feministas sul-africanos como uma forma de greve geral feminina, ocorrida na véspera da abertura do encontro do G20 em Joanesburgo. O objetivo era simples, mas impactante: interromper as rotinas diárias para visibilizar a violência baseada no gênero (GBV, na sigla em inglês). As participantes foram convidadas a aderir a uma série de ações coordenadas por 24 horas, incluindo:
- Não trabalhar ou realizar tarefas domésticas;
- Não gastar dinheiro em bens ou serviços;
- Deitar no chão por 15 minutos ao meio-dia, em referência às 15 mulheres assassinadas diariamente na África do Sul;
- Vestir roupas pretas como símbolo de luto;
- Mudar a cor das fotos de perfil nas redes sociais para roxo, representando a luta contra a violência.
Embora números oficiais sobre a adesão ainda não tenham sido divulgados até o início da tarde (horário local, manhã no Brasil), relatos de várias partes de Joanesburgo mostraram grupos de mulheres marchando com cartazes e entoando slogans contra a GBV. Esse tipo de mobilização cultural não é isolado; ele ecoa tradições de protesto sul-africanas, como as marchas anti-apartheid, adaptadas ao contexto contemporâneo de igualdade de gênero.
A Crise da Violência de Gênero na África do Sul
A África do Sul enfrenta uma das taxas mais altas de violência de gênero no mundo, com estatísticas alarmantes que justificam ações como o "Women's Shutdown". De acordo com dados da ONU Mulheres e do governo sul-africano, uma em cada três mulheres sofre abuso físico ou sexual em sua vida. Os feminicídios, em particular, são epidêmicos: as 15 mortes diárias de mulheres por parceiros ou ex-parceiros destacam a falha sistêmica na proteção às vítimas.
Culturalmente, a GBV está enraizada em desigualdades históricas, legadas do colonialismo e do apartheid, que perpetuaram normas patriarcais. Movimentos como esse não só protestam, mas também educam comunidades, promovendo diálogos sobre consentimento, direitos reprodutivos e empoderamento. O roxo, cor adotada no protesto, é um símbolo global do feminismo, conectando a luta sul-africana a redes internacionais de ativismo.

Resposta Governamental e o Contexto do G20
Na quinta-feira (20), durante a Cúpula Social — um dos eventos preparatórios do G20 —, o presidente Cyril Ramaphosa anunciou uma medida histórica: classificar a GBV e os feminicídios como um "desastre nacional". Essa declaração reconhece a escala da crise e pode abrir portas para recursos emergenciais, como fundos federais e campanhas nacionais de prevenção. Ramaphosa enfatizou a necessidade de educação, aplicação da lei e apoio às vítimas, alinhando-se às demandas das manifestantes.
O timing do protesto, na véspera do G20, foi estratégico. Com líderes mundiais reunidos em Joanesburgo para discutir questões globais como desigualdade e desenvolvimento sustentável, o "Women's Shutdown" inseriu a GBV na agenda internacional. Ativistas esperam que isso pressione não só o governo sul-africano, mas também organismos como a União Africana e a ONU a priorizarem políticas de gênero em fóruns globais.

Conclusão: Um Legado de Resistência Cultural
O "Women's Shutdown" transcende o protesto imediato, consolidando-se como um movimento cultural que inspira gerações. Ao paralisar a economia e as rotinas por um dia, as mulheres sul-africanas não só visibilizaram a dor coletiva, mas também pavimentaram o caminho para mudanças estruturais. Com o apoio presidencial e a atenção global do G20, há esperança de que essa greve marque o início de uma era de maior segurança e igualdade. No entanto, o verdadeiro teste será na implementação de ações concretas, provando que o ativismo cultural pode, de fato, transformar realidades sociais.





